Caro País,
Vai bugiar!!!
Mas antes faz-me um favor: deixa
de arranjar incidentes diplomáticos com aquele outro país irmão, como tens
feito, e fecha os olhinhos áquilo que chamas transacções obscuras de cidadãos
de lá oriundos e que passam por aí. É que sabes, como não quiseste os meus préstimos depois do meu esforço de um curso
superior suado e pago por mim, esse outro país alimenta-me e a mais 200 mil
cidadãos como eu.
Vá lá tu consegues, até porque o
fizeste muito bem quanto ao BPN inúmeras vezes e ao extinto BP, em que pessoas honestas e
trabalhadoras ficaram sem o dinheiro dos seus depósitos para que os gestores de
meia tigela pudessem brincar aos bancos... fazes como fizeste com os milhões
gastos em submarinos que, misteriosamente, desapareceram em alto mar (vá, eu
sei que o oceano é muito vasto, é natural não saberem deles), fundações e institutos
públicos que apoias financeiramente e que são mais que as mães deles, ou ainda
melhor, com os afamados contratos Swap tão danosos para a res publica e que ninguém é tido como responsável nem daí advirão quaisquer
consequências para quem os celebrou. Também nem se sabe bem quem foi, torna-se
difícil atribuir o que for a quem for…
Como podes constatar, até já tens
experiência nestas situações e tenho lido que agora roubas velhos pensionistas e
funcionários públicos… desculpa, isso não é roubar? Então que nome dás a isso?
É que não estou a ver outro, pois os gestores milionários de empresas públicas
insustentáveis e geridas (mal) á custa do dinheiro que se paga por serviços de
hotel 5 estrelas e tem-se uma prestação de motel de estrada nacional (daqueles
com direito a garagem para esconder o carro, vá!), continuam intocáveis nos seus ordenados e pensões milionárias.
Já agora, aquela questão das
licenciaturas em 24 horas (que nem on
line se conseguia tão rápido) e diplomadas ao Domingo, estão sanadas? Como
ficou a idoneidade e moral desses cidadãos que, por mero caso, fizeram parte do
aparelho de Estado? Tens que ter cuidado com essas coisas, fica-te mal deixar
passa-las e julgar a idoneidade e moral de outros.
Não ouvi bem, falaste em
corrupção, branqueamento de capitais naquele outro país? Mas espera… então e
aquelas empresas, cujo único cliente é o Estado que, por melhores que sejam
intelectualmente as suas equipas, levam couro e cabelo pelos serviços que
prestam? Aqueles tais consultores, geniais, a julgar pelos valores facturados.
E contas offshore? É que ainda ninguém percebeu se os banqueiros e afins podem
ter ou não… na dúvida, eles lá vão tendo!
Olha por falar nisso, será que
eu, como cidadã contribuinte, posso ter acesso à factura do fio dental e vestido
leopardo que um determinado maestro, que dirigiu a Casa da Música, pago por mim
e pelos outros contribuintes, que habita numa casa com piscina mas que, coitadinho,
vive da reforma e não pode devolver os valores que como perdulário que é, igual
a tantos outros, gastou indevidamente? Era só mesmo por curiosidade…
Quando puderes, faz-me também o
seguinte favor: arranja-me um “tacho” como secretária de um adjunto de assistente
de ministro, a ganhar 3.000€ por mês. Oh pá, fazia cá um jeito…
Saí daí porque estava farta de
ser “lixada” por ti e agora, até mesmo longe, tentas “lixar-me” na mesma,
deitando por terra boas relações entre dois países que tanto custaram a
(re)construir.
Acho que não estou a pedir muito e, então depois disto tudo, podes ir
BUGIAR, que eu deixo!
Assinado,
Uma descontente emigrante mista (daquelas que emigraram (i) voluntariamente, (ii) porque pretendia ter
uma vida decente e ser independente e, por fim, (iii) porque me mandaste).
PS – Este texto foi escrito ao abrigo
(não da porcaria do AO que me impuseste e que não aceito) da liberdade de expressão
que reina aí mas não no outro país (parece que é verdade…). Mas sabes, a
liberdade de expressão não alimenta barrigas e é vã quando ninguém liga ao que dizemos e
torna-se cronicamente surdo. Mais vale nem poder falar, porque o resultado é
exactamente o mesmo e tem-se muito menos trabalho!