Sempre fui de guardar recordações de tudo, como se
pretendesse prender os momentos e as sensações em pedaços de papel, em pequenos
objectos… num mundo tão fugaz, pensava que assim o ADN da emoção ficasse
gravado para sempre e ao alcance de um reviver constante.
Os meus primeiros
totós do cabelo, um guardanapo de um sítio onde nunca tinha ido, bilhetes das
amigas quando ainda não havia os sms, as imensas cartas da minha penfriend finlandesa durante 5 anos…
caixas e caixas repletas de pedaços datados da minha história, num puzzle que
apenas eu sabia como encaixar. Era a pessoa das listas e das agendas, das
folhas de Excel com as inúmeras probabilidades possíveis reduzidas a apenas uma,
aquela que eu tinha quase a certeza que seria a que se iria verificar.
Todas as expectativas quanto ás pessoas com que me cruzava eram
sobrevalorizadas, exponenciadas, como se de únicas e raras se tratassem. O peso
da ansiedade e das desilusões era um fardo duro de carregar, a que se juntavam mais uns quilos do “eu já sabia que ia ser assim".
Não poderia estar mais iludida quanto ao conforto que dá a
certeza das coisas… A vida trata de pôr tudo no lugar a que pertence, por muito
que alteremos a ordem e o lugar das coisas, vezes sem conta. Como uma esponja,
por muito que se aperte, ao largar da mão, volta imediatamente á sua forma
inicial. Percebi que é impossível manter a mão - e a minha mente - sempre
fechada, o controlo… o esforço era esgotante.
Abri, finalmente, mão das certezas. Sinto-me livre de
pedaços condicionantes, de emoções congeladas, de sensações esbatidas. Já não
guardo quase nada, tudo tem a sua função em determinado momento e esgota-se com
a finalidade cumprida. A nossa mente não é um poço sem fundo, precisa de
destruir o que é velho para acondicionar o que de bom ou mau o novo nos traz. Deve
ser mantida aberta a tudo e presa a nada, como se de um bom “Alzheimer” se
tratasse e a cada dia tudo seria novo, revivido com a emoção da primeira vez e
não como uma recordação do dia anterior.
Cada evento é um mundo de infinitas possibilidades que não
cabem numa folha de Excel, cada um é apenas aquilo que é e, finalmente,
tornei-me no que sempre queria ter sido. Não quero nada que perdure mais do que
deveria ou do que eu gostaria. É um fardo muito menos pesado...
Á minha mentora de coaching,
I.F.