Estamos sempre a arranjar desculpas para que o essencial - viver, simples e intensamente - não seja o que
mais nos ocupe e preocupe. Sentimo-nos melhor com as manobras de diversão e os
expedientes dilatórios a que chamamos rotina e hábitos das nossas vidas. Poucos
encaram bem a mudança e quando ocorre, tem de reunir tantas condições como as que temos na
situação em que estamos, para que não sintamos, para que não nos apercebamos,
para que nem sequer pensemos... na volatilidade do que é material, na
inflexibilidade do tempo e mortalidade das pessoas e das coisas, no que o hoje é
que em nada pode parecer-se com amanhã.
Porque toda esta comoção é assustadora, tendemos a agarrar-nos, ainda que
seja apenas pelo dedo mindinho, ao que conhecemos, ao confortável, ao
expectável, para que assim sintamos que estamos sempre à altura destes
desafios, que na verdade não o são, quando esta nossa capacidade de adaptação é
meramente deixar de caminhar pelo lado esquerdo do passeio e passar a fazê-lo
pelo direito, mas nunca mais perto da estrada.
Aos que não desenvolvem a inteligência emocional - que, ao contrário do que
se apregoa nada tem a ver com a extrema contracção das emoções em prole de uma
paz pessoal, profissional e social podre em que a assertividade (para?) é
rainha, mas que será acima de tudo sermos muito próprios e únicos em cada
situação, em cada confronto, em cada começo, sendo igualmente felizes com o que
nos rodeia – este é o paradigma de vida ideal. O do marasmo, do falso previsível, o do
desvalorizar porque corriqueiro e banal, da segurança fantasma em que pouco
muda e tudo está muito bem assim.
Quem me conhece, ao ler estas palavras, imediatamente relaciona a antítese
das mesmas com o que sou, como vivo e como trato o que me rodeia. Numa nova
etapa e num novo começo, há que despir a ditadura do carinho e alento imediatistas do
que já se sabe, dos que conhecemos, dos que gostam de nós... interessa vestir a
essencial simplicidade das novas conquistas, do aceitar o novo e entranhar, da
capacidade ilimitada de aprender e surpreender connosco e com os outros novos
com quem nos cruzamos. Parece-me tão essencial como respirar. Conheço tanta
gente tão moribunda...